Hoje em dia, muitas famílias optam por ter somente um filho. Filhos custam caro, dão muito trabalho, tomam muito tempo. Antigamente a mulher não trabalhava fora, podendo se dedicar mais aos cuidados com as crianças. O salário era menor, uma vez que o sustento vinha apenas do pai, porém, os filhos não tinham necessariamente tantos brinquedos e aparelhos eletrônicos como acontece nos dias atuais. O importante era que todos tivessem direito a um bom estudo, a uma boa educação.
Hoje, via de regra, ambos os pais trabalham fora, tendo diminuído seu tempo com os pequenos. Para compensarem a ausência e a falta de paciência no fim do dia, entopem as crianças com brinquedos, tablets e celulares.
A educação também mudou. Não basta mais que os filhos frequentem os melhores colégios. Também precisam de aulas de inglês, música, natação e até mesmo computação. O mercado de trabalho está cruel e as crianças precisam estar muito bem preparadas antes de chegar à fase adulta.
Assim, com menos tempo disponível e mais gastos com brinquedos e educação, a opção de se ter apenas um filho vem ganhando cada vez mais espaço. É preferível criar um só filho com todos os luxos do que ter que privar as crianças de alguma coisa que elas queiram. Mas será que vale a pena ter tudo o que se deseja e menos pessoas para amar?
Filhos únicos exigem mais dos pais, pois não têm com quem brincar em casa. Os pais estão cansados de tanto trabalhar, portanto a melhor solução é contar com o celular. A criança aprende a brincar sozinha e quando está em grupo nem sempre sabe compartilhar.
Já aquele que tem um irmão, aprende a dividir, não só brinquedos, mas segredos, alegrias e desilusões.
Há quem diga que não há garantias de que irmãos se darão bem e é verdade. Porém, se tiverem uma boa criação, podem se tornam os melhores amigos por toda a vida.
Irmãs trocam confidências. Irmãos do mesmo sexo trocam experiências. Irmãos de sexo diferente aprendem a se amar apesar de suas diferenças. Há menos solidão. Há mais companheirismo.
Mas nem tudo são flores. Um irmão acarreta uma disputa pelo amor dos pais. Da mesma forma que precisam compartilhar brinquedos, doces e roupas, precisam dividir o amor dos genitores e este nem sempre é proporcional.
Pais não amam todos os filhos da mesma forma. Podem amar com a mesma intensidade, mas sempre haverá um preferido. Sempre haverá um com quem o pai ou a mãe se identificará mais e isso se tornará evidente depois de algum tempo.
Ainda que não digam nada, os filhos percebem e sofrem por receberem um tratamento diferenciado, ainda que inconsciente e disfarçado.
Não há como evitar. É natural. Se os pais conseguem dividir o amor equilibradamente, apesar da preferência, tanto melhor. No entanto, nem sempre isso acontece.
Thiago, durante cinco anos, era o amor da família. Filho único, primeiro neto, foi extremamente mimado e paparicado. Então, nasceu Luiza e logo se tornou o xodó dos pais. Continuavam amando Thiago da mesma forma, mas agora todas as atenções iam para a menina. Com o tempo, o menino tornou-se mais isolado, fechado e inacessível, ratificando ainda mais a preferência dos pais por Luiza.
A própria mãe havia passado por uma situação semelhante. Sua irmã era a preferida dos pais e o relacionamento das meninas era à base de competições. Agora, a mulher estava repetindo padrões e tornando os filhos competidores em vez de companheiros.
Ricardo é o filho do meio e a mãe só tem olhos para o primogênito e o caçula. Ricardo vive à sombra dos irmãos e faz de tudo para conquistar o amor da mãe. Como não consegue com atos bons, começa a praticar atos ruins. Só tira notas baixas, fuma e anda com más companhias. Finalmente chama o interesse da mãe que, desesperada, não sabe o que fazer ou onde errou.
Nem sempre é tão ruim assim. Às vezes o pai tem mais afinidade com um dos filhos e a mãe com o outro, compensando, dessa forma, a preferência. Às vezes, um dos filhos é claramente o preferido, mas o outro se sente amado da mesma forma. Tudo depende da forma como esta preferência é manifestada. O fato é que sempre há um preferido, sempre há um com quem os pais têm mais afinidade, embora o amor possa ser igual para todos.
Outro fator que influencia a preferência dos pais é quando um filho é claramente parecido com ele próprio ou com o cônjuge e não de forma agradável.
Por exemplo, um pai autoritário e que não admite ser contrariado vê, em sua filha, uma jovem rebelde e indomável. Inconscientemente, ele se vê na menina e então começam os atritos. A outra filha é dócil e nunca o desobedece, portanto, o pai tem um relacionamento melhor com a filha que é o oposto dele.
Outro exemplo é o do filho que é muito parecido com o ex-marido, um homem distante, que nunca demonstrou afeto. A mãe vê no filho as mesmas características que via no esposo e acaba tendo maior afinidade com a filha que é mais parecida com ela.
Crianças que percebem a preferência dos pais pelos irmãos podem crescer inseguras e passar toda a sua vida em busca de aprovação. Podem crescer achando que a vida é uma competição e que todos são seus rivais. Podem crescer isolando-se dos outros e criando uma redoma em volta de si mesmas. Porém, podem crescer sem nenhum problema, sem nenhum rancor, sem nenhuma mágoa. Tudo depende de como é a dinâmica da família.
Então, não seria melhor ter apenas um filho e evitar os problemas que podem surgir da preferência dos pais?
O filho único realmente não terá problemas em competir pelo amor dos genitores. Ou se sentirá amado ou não. No entanto, a falta de irmãos pode acarretar em outros problemas para a criança. Com o irmão, ele terá companhia constante. Com o irmão, ele aprenderá a dividir. O irmão, talvez, será seu melhor amigo e confidente. Amigos podem se afastar, mas o irmão, normalmente, sempre fará parte de sua vida.
Cabe aos pais decidir. Não há certo nem errado. O que importa é que nunca falte amor e que haja sempre o mesmo amor para todos.